ou a chuva por elas?
Tinha as pupilas tão perto quanto bastasse para ver
as imagem invertidas no fundo de qualquer gota,
nítidas, e revelando tudo ao contrário,
contendo ruas inteiras, ou outras paisagens,
um mundo superficial que desapareceria
impiedosamente,
com a aproximação e posterior permanência do sol,
em abertas de tempo incerto
naquele acontecimento vulgar que era mais um outono.
Estendia as mãos o mais possível, e,
em bicos de pés tentava agarrar as folhas
que caíam das árvores, enquanto recordava
meia dúzia de memórias inventadas.
Subia o banco de pedra para tentar engrandecer
um pouco o seu pouco tamanho,
saltava de novo para o chão
e para a consciência das ervas crescendo à beira do passeio,
no seguimento duma escassa linha de terra que o acompanhava.
Rasavam-lhe os ombros, tão altas, tão altas...
até onde um menino pequeno pode entender.
(Alguém lhe abria a porta para a escada monumental
e lá dentro os velhos armários estalavam misteriosamente,
e assim vivia as coisas).
Os seus olhos de criança procuravam
constantemente todas as distrações.
Enfiou os pés calçados com botas de cano curto
dentro de um charco, a mãe, o pai,
não viram o propósito da ação,
desconsideraram o gesto,
pensando tratar-se de aluamento, ou discuido,
o miúdo escondido no seu ínfimo tamanho, vivendo à superfície da lua.
Era-lhes difícil imaginar, por isso,
a importância do ruído que provoca o chapinhar na água,
ou talvez nem o tenham ouvido, sequer.
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