domingo, 14 de janeiro de 2018

O Homem (adap. EI)



Parecia-lhe um motivo bem simples, era tudo uma questão de sol e sombra, e era por isso que utilizava uma espécie de cabana, de casinha, de casota de madeira..
Habitava numa das muitas clareiras que tinha aquele bosque floresta montanha que rodeava por todos os lados a cidade.
Ainda bem que assim era, que estava longe do bulício, permitia-lhe trabalhar tranquilamente no desenho da janela que iria fazer na barraca, para reter mais luz, porque naturalmente seria uma questão de luz, ou falta dela, produzir durante o dia, uma sombra tão aterrorizadora.
Às vezes, à noite, chegava-se a uma ravina, sentava-se no chão ou numa pedra, para contemplar o balanço da luz elétrica, e ouvir, ao longe, o sapateado inconfundível dos que pisam o cimento, ou, eventualmente, os batimentos cardíacos dos automóveis.
Não admirava que, se fixasse os olhos, com muita atenção, lá em baixo, percebesse nos arranha céus um certo movimento dançante.
Punha-se a pensar que, talvez, a absorção que, num futuro próximo, depois do desenho da janela concluído, faria da luz, pudesse evitar o medo provocado nas pessoas pela sombra do seu corpo de gigante, e nessa altura talvez ninguém ligasse à sua figura descomunal, e fingissem, nem que fosse por um momento, serem todos do mesmo tamanho.
E era nessa esperança que interrompia, de vez em quando, o seu  trabalhoso desenho, para se ir sentar, no chão das ervas, olhando o vale habitado por seres vivos e tão parecidos, que haveria, também um dia, de  desenhar, ao lado da sua pouco #ortodoxa janela.




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