sexta-feira, 26 de maio de 2017

Ninho

Era uma vez uma cegonha daquelas que transportam os recém nascidos.
Um dia, numa das suas viagens, apaixonou-se pelo bebé que trazia dentro do lençol atado em concha, e bem preso pelo bico.
Então resolveu ficar com ele, e não o colocar, como habitualmente, em frente a uma porta principal.
Era muito gorducho e bonito, e, ao contrário dos outros, não dava aqueles gritos agudos, não cantava portanto, como não cantam nem as cegonhas, nem os cegonhos, nem os seus filhos.
Pousou-o no ninho, desatou o nó difícil de quatro pontas, dobrou o lençol, que prendeu entre dois cabos elétricos, colados à sua casa redonda e sem teto, a vinte metros do chão.
Quando teve que o alimentar, não foi fácil. Ele não comia as minhocas tão boas que lhe trazia, teve que roubar leite quente que transportava no bico.
Com o passar dos meses a criança conseguiu finalmente pôr-se de pé, e, quando o fez, chegou-se à beira daquelas paredes de palha para, curiosa, espreitar os campos de trigo à sua volta, e toda aquela imensidão de espaço.
Cá em baixo, num carreiro de pedra por entre a folhagem, passava, montado na sua bicicleta, o Manel Boné.
Quando olhou para cima e viu a cabeça do miúdo, chamou de imediato os bombeiros, que o resgataram com sucesso

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