sexta-feira, 21 de abril de 2017

SHAKESPEARE (2) (Encic.)

As caras contraíam-se em trejeitos, e as bocas comentavam baixinho, " ele nunca leu #Shakespeare".
Sorrisos de orelha a orelha, expressões que não enganavam, irónicas.
Cumprimentavam, diziam boa noite em movimentos lentos, copo na mão, e repetiam entre dentes, sussurrando, "ele nunca leu Shakespeare".
Lá fora alguém fumava, a noite a pôr-se, a beata atirada para o chão, apagada pelo rodar do pé, pelo bico do sapato, e a perguntarem um ao outro em surdina, "mas nunca leu na...da"?
"Nada..., nunca"!
Os semblantes preocupados, as mãos nos bolsos com ligeiras compressões dos músculos, e, por entre um ou outro átomo de perfume vaporizado, um suave aroma a tabaco, agradável.
A noite foi passando, grotesca.
Os olhos vítreos do álcool, a roupa desalinhada, e, sobreposto ao ruído, gritado até, ou nos cantos caídos, com o queixo entre os ombros, articulando devagar, sílaba a sílaba, "ele nunca leu Shakespeare"!

Sem comentários:

Enviar um comentário