sexta-feira, 13 de maio de 2016

Testamento (Enciclpédia Ilustrada)

Minhas queridas e amantíssimas filhas:
Quando eu morrer não haverá testamento, porque para vos legar só tenho uma casa velha.
À medida que os anos passam, a morte é mais provável, está mais próxima. Não que a tema, tenho é pena de deixar de existir, já que sou uma apaixonada pela vida, pelas pequenas coisas, pelas grandes causas, e sobretudo pelo pensamento.
Mas o que importa agora é que não tenho nada para vos deixar, a não ser uma casa velha.
Procurei que olhassem para mim como alguém que fosse mais do que a mãe que gosta e cuida, alguém com valores acrescidos, alguém que depois de terminado o seu papel de mãe ( papel que a bem dizer se mantém para sempre, embora com uma dimensão diferente ), continuasse a existir, rica, preenchida.
O que procurei transmitir-vos foi sobretudo força. Essa energia superior à energia física, esse vigor para enfrentar as adversidades. Mas também tentei ensinar-vos o valor incalculável da boa disposição, do riso, o respeito pelos outros, o gosto pela vida.
Resumindo, o que tentei, e acho que me posso orgulhar de ter conseguido, foi que se possa dizer das duas que são mulheres com "m" maiúsculo, o que, economicamente falando, não vale nada. É apenas um pormenor de escrita. Só isso.
De resto não farei testamento, pois para vos deixar só tenho esse "m", e a nossa casa velha!

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