terça-feira, 3 de maio de 2016

Marta (Enciclopédia Ilustrada)

Duas Martas acabadinhas de sair do forno.

Marta 1
A Marta era uma mulher muito velha, que tinha ido parar ali.
Para lhe serem prestados os cuidados mínimos foi preciso amarrá-la, mas nesse processo rápido, ainda conseguiu arranhar e beliscar dois ou três!
Por segurança tiram-lhes sempre as dentaduras, de forma que os lábios da Marta se metiam para dentro, e ficavam com o aspecto de um vulcão extinto pelo tempo. O nariz, a sair da magreza saliente, apontava, altivo para o teto. Era só o que tinha de altivo, o nariz!
A Marta já não era uma mulher, era uma sobra do género feminino, talvez nem isso, era só uma mulher velha, só uma velha mais nada, já nem era a Doutora Marta, nem a Dona Marta, nem a senhora Engenheira.
Houve um que até lhe chamou avózinha, veja-se o descaramento, e ela, que ouvia bem como tudo, quis arranhá-lo pela indelicadeza, mas, imobilizada, não conseguiu, e teve que se pôr aos gritos: Acudam, Acudam! Ó da guarda!
Depois veio alguém que lhe fez uma festa suave na cabeça, e lhe bichanou ao ouvido: Sossegue, querida, sossegue.
E a D. Marta sossegou. Nada de mais.
É só o episódio de um conjunto de ossos sem nome que foram lá parar, e que tenho o previlégio de batizar como Ilustríssima e Digníssima Senhora Dona Marta Só!

Marta 2
_Marta, despacha-te!
Às onze tens natação, às doze ballet, às treze vamos almoçar aos avós, depois vamos às compras.
Quando chegares fazes os trabalhos. A ver se estão prontos antes da aula de esgrima, porque ainda tens explicação lá para o fim do dia!_
Caga nisso, Marta!
Foge de casa nem que seja por um dia! É o conselho que te dou!

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