sexta-feira, 3 de abril de 2015

Eu vou com o mar

O maluco percorria a praia
no chapinhar das ondas
e gritava: Eu vou com o mar
eu vou com o mar!
Ou os olhos azuis, salgados
Na pele morena
fixos em ti
Eu vou com o mar
Eu vou com o mar!
Os pés marcavam fundo a areia,
por segundos
Os pés limpos de morrer
As calças molhadas
enroladas debaixo das rochas
Eu vou com o mar
Eu vou com o mar!
O maluco perscrutava,
com os olhos límpidos
transparentes
a água
Eu vou com o mar!
Apanhava seixos redondos
que voavam em três toques rasantes
Eu vou com o mar
Eu vou com o mar!
E tu com medo azul e negro
A maluquice do maluco
a passar para ti
o mar imenso
inofensivo e tranquilo
eu vou com o mar
eu vou com o mar!
As belezas todas
o apelo das gaivotas
os olhos metálicos do doido a entendê-las
os teus olhos receosos,
algas em movimentos basculantes
muito longe dali
Eu vou com o mar
O maluco, quando não gritava
mexia os lábios
todos os dias assim
e tu,
Sentado na areia
nem uma palavra!
O oceano sem tamanho
o maluco bronzeado do sol,
e tu, ali, pequeno e esbranquiçado
Eu vou com o mar
Eu vou com o mar!
Sentou-se ao teu lado, nas dunas
os braços à volta dum joelho
a outra perna esticada
e tu à espera
o sal colado na pele
imaginando onde chegava
o seu olhar sem fundo.
Imóveis.
Até a lua cheia formar os seus caminhos
de prata bonita
na noite infinita
Eu vou com o mar
Eu vou com o mar!
Tu,
no frio da noite maldita
chegas-te ao mar
para sentir a água tépida nos pés
Eu vou com o mar
vamos com o mar sossegado
vamos com o corpo
eu vou com o mar!
A água pela cintura,
numa mistura ofuscante
de sons brilhantes,
odores flutuantes
Eu vou com o mar!
O maluco ao teu lado,
delirante e feliz
a pele sem fundo
os olhos da cor do horizonte escondido
refletido em ti.
Eu vou com o mar
Eu vou com o mar!



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