sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Gerbera não sabia o seu nome.
Estava atrasada por mil anos 
na mudança dos vidros facetados das  janelas.
Havia, em todas as horas da sua curta vida, outras prioridades, 
a urgência  de resolver pequenas coisas trocava-lhe os pensamentos, 
de forma que, de todos os brilhos e luzes, de todas as cores do arco íris que se revelavam no jardim, e apesar da sua forte presença,  talvez não  fossem, então, mais do que meras falsidades. Vivia assim, com esta interrogação.
Era um facto incontestável de que tinha passado os outonos a morrer, sempre a morrer um pouco, acompanhando as rotações do sol, mesmo quando ele se escondia atrás de uma nuvem cinzenta, enorme e tão densa que ninguém apostaria que lá por trás existisse céu azul.
E era tão necessário pôr fim à encruzilhada artificial daqueles específicos raios de luz, refletidos em praticamente todo o universo, e tão assustadoramente errados. Deveriam ser paralelos e não incómodos segmentos de reta discordantes.
E o tempo passava... 
Dias rápidos, em que se erguia, orgulhosa, para a seguir cair, pesarosa,  na branca  folha das folhas, todo o tempo que leva a atingir a forma redonda do um caule, onde seriam as vãs palavras a encaminhar uma coroa de  velhas pétalas para o chão.
Era bem possível que Gerbera fosse nome de flor, por coisas que viu e foi ouvindo, que adivinhou nos passos das pessoas que passavam junto a si.


Gerbera não sabia o seu  nome, mas sempre tivera por ele muita curiosidade. Até ali, havia sempre, em todas as horas da sua curta vida, outras prioridades para resolver, de forma que a urgência das pequenas coisas trocava-lhe os pensamentos e, quando se debruçava sobre o assunto, era distraída pelas cores do arco íris, ou por qualquer outra manifestação  de vida que acontecesse no jardim.
(Os outonos, percorria-os sempre a morrer.)
E o tempo passava...
(Era no outono que eu, na minha folha branca, desenhava a forma redonda do seu caule.)
Um dia, não precisou mais de pensar. Por coisas que  fora ouvindo  palavras das pessoas que passavam junto a si, era bem possível que, afinal, Gerbera fosse nome de flor. 





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