sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Húmido

Para que não se perca, vou lembrando, de tempos a tempos, como eram então os dias.
Eram chuvosos mas não assim tão frios, e eu usava, orgulhosamente, uma gabardina de um cinzento escuro, que tinha encontrado lá por casa, e que contrastava com a minha pele, que ainda hoje, tantos anos passados, se mantém de enorme brancura.
Nesta zona #húmida, que é Sintra, as árvores, os arbustos, a serra, parecem absorver melhor do que em qualquer outro lugar o seu verde. Talvez ajudem a este sentimento as plataformas de musgo, que se formam nos recantos menos soalheiros, e que usávamos na altura, como carpetes macias.
Nessa época a chuva não me incomodava, em boa verdade, nem a chuva nem o sol intenso, se o houvesse, ou cheias, ou secas, ou outros cataclismos. O que me importava era estar passeando debaixo das árvores, ou por caminhos de terra, ou pisando, pelos passeios, as folhas orvalhadas dos plátanos.
E para que se saiba, para que não se esqueça, e embora tenha tido muitas e diferentes gabardinas depois disso, continuo igual, apreciando mais que tudo, a brisa nos galhos ou o movimento ondulante das cortinas.



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