segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Lembranças EI (adaptado)

A casa cheia de objetos supérfluos e inconvenientes, amontoados pelos cantos, garrafas e embalagens vazias.
(Numa persistência encantadora e comovente, com as palavras adequadas, conseguiu evitar-lhe um buraco sem fundo).
E era aí que dizia, as tuas palavras não me matam a sede, quando se virava para ela.
A pancada maior são escritores que não me matam a sede.
Tenho alguns elogios para ti, mas não me matas a sede! E dizia: Que previlégio ser alguém solitário mas que os outros abraçam.
Espreitava da pequena janela, para ver os plátanos, o que pouco aquece ou pouco arrefece, a mãe dizia, hei-de levar isto para aqui e para ali. Dava pequenas voltas, passos absolutamente curtos, mas não me matam a sede as tuas palavras. Repetia maravilhada de encantos invisíveis.
A roupa suja, os sacos e de vez em quando um simpático sorriso sem alguns dentes.
Que previlégio, que previlégio descer ao fundo do mar, as tuas palavras não me matam a sede, era tudo tão lindo com os peixes de cores vivas e as algas basculantes, tudo pintado como os limões e as laranjas que me trazes.
Que previlégio as tuas palavras não me matarem a sede, afogadas naquele copo de água. Enfim!
E a janela? A janelita? Praticamente um postigo, um quadrado de vidro numa moldura de madeira., as tuas palavras não me matam a sede.
A puxá-la pela mão, #LEMBRANÇAS, a casa cheia de lembranças pairando irreais ou acumuladas em tralha sobre os móveis, onde por sua vez sempre se move uma graciosa amálgama de sombras de sol e de folhas!
O que também me serve de amparo são as tuas palavras que não me matam a sede, percebes?
É a janela, é o postigo. O outono repetido vezes sem conta, o pó sobre a mesa, o pequeno troço de estrada que nele fiz com a ponta de um dedo.
E as tuas palavras não me matam a sede, só o movimento impercetível das velhas cortinas.

Sem comentários:

Enviar um comentário