segunda-feira, 18 de abril de 2016

Wagner (Enciclopédia Ilustrada)

O Wagner era um cão submisso.
Podem sempre dizer, “Escolheu o nome do animal em função da palavra de hoje”. E é bem verdade. O cão já existia, mas até agora era apenas um cão sem nome que me rondava o pensamento. Ainda pesquisei imagens do grande compositor para tentar uma relação entre os seus cabelos e o pelo do cão,ou entre o semblante de um e o de outro, mas nem toda a imaginação do mundo conseguiria encontrar semelhança entre eles. Ainda assim, parece-me Wagner um excelente nome para o meu cão.
Como dizia, o Wagner era um cão submisso. Seguia o tratador para todo o lado para que o defendesse dos outros cães do canil, alguns bem mais fortes do que ele. Quando o tratador parava, ocupado com qualquer coisa, e acontecia perdê-lo, guiava-se pelo seu cheiro, ou pelo seu assobio, e de orelhas em baixo para não ouvir tanto o ladrar dos outros, dava umas corridas medrosas até alcançar o homem, enfiado nas suas botas de borracha. Pedia duas ou três festas, abanando a cauda e dando pequenos latidos. “Onde é que andavas, Wagner?”. Adorava o som da pergunta, e deitava-se bem perto dela, em segurança, com a cabeça entre as patas.
Um dia, devido a uma necessidade qualquer, para ele incompreensível, colocaram-no numa boxe com um velho rafeiro dominante, tornado pachorrento e inofensivo pela idade, mas dono de qualquer território. Assustado, Wagner enrolou-se num canto, e ali ficou durante dois ou três dias, mal se mexendo. “Tanto me faz, pensou, só me importa que perdi o meu único amigo”.
O tratador entrou para limpar o espaço e para lhes dar comida. Wagner lançou-se sobre o outro cão, atacando-o,e, feroz como nunca fora, agarrou-se ao seu pescoço resolvido a matar ou a morrer!
Isto contou o homem aos colegas, ao fim do dia. “Um cão tão dócil, não sei o que lhe deu! Não percebo”, e o Wagner, deitado ao seu lado, a ouvir tudo, de olhos semicerrados, fingindo que dormia!

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