Ia a formiga aos tropeções de cada vez que alguém pisava a areia.
Os miúdos, então, leves e rápidos, faziam levantar os grãos mais alto e mais longe,
bem..., os muito pesados também eram perigosos, podiam esborrachá-la com alguma facilidade.
E lá ia ela de pernas para o ar, arremessada para onde calhasse a sua sorte.
Duas das patas dianteiras seguravam, sobre o dorso, sobras de um cadáver de barata
que ela e as suas amigas tinham esventrado à sombra de um velho chapéu de sol, inclinado o suficiente para o efeito.
Ao fundo ouvia-se o cantar da cigarra, que vibrava entre as ervas secas, e provocava uma ligeiríssima brisa que, ouvida pelos seus ouvidos, tendia a refrescar o calor do verão, e mais ao fundo ainda, de madeira gasta pelo sal da água, era mais no inverno que o mar salpicava tudo de sal corrosivo e a própria atmosfera era húmida e desagradável, a sua casa, onde havia túneis à sua medida, entre as tábuas do chão.
Com alguma dificuldade, retomou o seu percurso, aproximando-se, inadvertidamente daquele perigo, perigoso, e parou, veja-se, parou quando por lá passou em frente, para ver o balanço dos juncos na ria.
E lá estava ela, a cigarra quase invisível,cantando as suas melodias provocatórias, "Eu é que sou feliz, eu é que sou feliz", repetia, sem se cansar.
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