segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Verão

Por vezes, ali por meados do verão

o tempo ludibriava-nos

apresentando-se em dias escuros e nevoentos,

passe o facto da atmosfera 

se exibir igualmente muito quente e abafada.

foi num desses dias de agosto que,

completamente impreparadas para a chuva,

de sandálias com unhas pintadas e roupa fresca,

saíram de manhã cedo,

já a manhã era manhã luminosa.

acabadinha de nascer.

Nesse momento, quando se viram na rua

nada deixava adivinhar que chovesse, mas,

ainda que fosse possível ter uma vaga ideia

da modoficação que iria acontecer, ninguém,

com tanto calor logo pela manhã,

se incomodaria a pensar num guarda-chuva,

ou numa capa protetora para meter no saco,

à laia de segurança.

Quando eram, talvez, sete e meia, oito horas,

da noite,

se, por mero acaso, o sol não se tem escondido entretanto,

ainda o sentiríamos por todo o lado,

forte e apetecível,

terminando em beleza mais um dia

comprido e quente,

ou brilhando, ainda, diretamente nos objetos

ou deixando-lhes com oferta prestimosa

o calor resudual de um dia abrasador.

Mas as nuvens taparam-no,

e que nuvens teriam de ser necessárias,

ou quantas, densas e escuras,

para apagarem tamanha luminosidade.

Eram sete e meia, oito horas da noite,



domingo, 30 de agosto de 2020

Por vezes, ali pelos meados do verão, o tempo
 ludibriava-nos apresentando-se em dias escuros e nevoentos,
 passe o facto de a atmosfera se apresentar  igualmente muito quente e abafada.
                               Foi num desses dias de agosto que, 
completamente impreparada para a chuva, 
de sandálias com unhas pintadas, e roupa fresca, 
saíu de manhã cedo, já a manhã era manhã luminosa acabadinha de nascer.

Nesse momento, quando se viu na rua, 

nada deixava adivinhar que chovesse, mas, 

ainda que fosse possível ter uma vaga ideia 

da modificação que iria acontecer, ninguém, 

com tanto calor logo pela manhã, 

se incomodaria a pensar num guarda chuva, 

ou numa capa protetora para meter no saco à laia de segurança.

Então,

 quando eram talvez sete e meia, oito horas da noite,

 se o sol não se tem escondido entretanto,

ainda o sentiríamos

 por todo o lado, forte e apetecível,

 terminando em beleza mais um dia comprido e quente,

 ou brilhando diretamente nos objetos,

 ou deixando-lhes o calor residual de um dia abrasador,

 mas as nuvens taparam-no,

 e que nuvens teriam de ser necessárias,

 ou quantas, densas e escuras,

 para apagarem tamanha luminosidade.

 Mas, como dizia, foi pelas sete e meia, oito horas,  

da noite, que ela tombou sobre nós,

 primeiro sob a forma de umas gotas ínfimas de nevoeiro,

 para depois, finalmente, se transformar em chuva

 

 

 

 

sábado, 29 de agosto de 2020

Sem título

Sentou-se na sua cadeira
de baloiço,
um lugar de eleição junto à 
janela
entreaberta
e sentiu a corrente de ar,
fina e invisível, que fazia
mover, vagarosamente, as
cortinas.
O vento, na sua persistência
meticulosa,
já as rompera em determinados
pontos,
originando, com tanto tempo
perdido,
rasgões verticais na suavidade 
vaporosa do seu débil
tecido, 
Haveriam, ainda, de passar 
por ali, 
talvez um dia,
bandos e bandos de pássaros 
invulgares
que acabariam por mudar 
quase tudo.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

kdkdkdk

 Era importante sair de trás da cortina, mesmo que sentado junto a ela, sentindo os pequenos movimentos ondulantes que a brisa lhe oferecia.

Eram os pássaros invulgares que lhe faltavam para compor o mundo, 


Dei dois passos, atirei-me de um penhasco e, imediatamente a seguir, abri os braços, que eram muito mais dos que braços, cortavam o vento, suspendiam-me no ar, se fosse preciso,  travando, com a perícias das criaturas com asas, os movimentos do meu corpo. O que vi, inicialmente, foi o reflexo de um pássaro, uma sombra que alargava ou se estendia, conforme a suave ondelação das ondas, e que supús viajar a uma altitude ligeiramente superior à minha. Os óculos cairam-me em queda livre, mal adaptados àquela força da gravidade, mas eu, espantosamente, não tive necessidade deles, via perfeitamente, por causa de tanta luz refletida na água salgada, tanta clareza deixava-me absorver os objetos, nitidamente, como se fisesse parte dos dias inventados. 

Tinha que alcançar terra firme, não porque lhe sentisse necessidade, mas porque ansiava vê-la, após as dunas. apreciar pequenos blocos de cimento geométrico incrustados na superfície terrosa própria da Terra, apreciando o caos, sob a perspetiva das gaivotas. Era muito importante ir para além das cortinas, saltar por cima das andorinhas, que treinavam em família a inevitável partida, fazer memória do que já tinha passado, pairando sobre os telhados das casas, sobre os jardins, aflorando as chaminés ou os plátanos de antes. ou não atino com este novo formato.

Sentou-se na beira da falésia e, com o dedo grande do pé esquerdo, um dedo com uma elasticidade invulgar para o homem comum, tocou na água que rugia lá em baixo atacando raivosamente as rochas.

Estava tão fria que retirou maquinalmente o pé, e encolheu as pernas ficando com os joelhos bem junto aos ombros.



Olhou para o céu, de olhos bem abertos, holofotes que projetavam curiosidade, enormes e planos, após o seu pescoço, lentamente, se ter virado para trás num ângulo de noventa graus.

Esticou um dos seus braços extensíveis, capazes de abraçar tudo, e enfiou a mão aberta dentro de uma das nuvens, para lhe sentir a densidade húmida e aparente.

, mas a forte camada adiposa debaixo da epiderme verde protegia-o dos disparates do tempo.

Estava-lhe no ácido desoxirribonucleico aquela coisa de ser ave.

Até as pequenas flores azuis, rente ao chão, rastos de cores rasteiras

vibravam com o forte vento.

Coberto de penas obrigava-se ao vôo, 

 




quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Agora



O que elas faziam de imensamente errado

era abrirem os braços para o céu

e deixarem os pássaros pousar na sua quietude.

Agora, caem no chão, cortadas pela serra elétrica.

As asas das aves, a esta hora, já as levaram para longe,

fugindo do medo.

Os seus troncos majestosos ficaram nus e sangrentos,

e vi-as desfazerem-se em pó, que caía em contraluz.

Aconteceram estrondos impressionantes.

As últimas folhas dos últimos ramos, presas por um fio de tempo,

cintilaram como antes nunca tinham cintilado,

tentando inutilmente gritar.

Um mar de madeira viva cobre agora o que antes era um bosque.

Foi o meu sol de luz verde que acabou por desaparecer.






Etiqueta e Pirolito

  Etiqueta e Pirolito subiram à árvore e ali ficaram sentados, no grosso tronco capaz de os suportar aos dois.

O processo era sempre o mesmo, Pirolito subia primeiro e ajudava Etiqueta estendendo-lhe a mão para a ajudar nas partes mais difíceis, onde a estabilidade era pouca porque quase não havia onde firmar os pés.
Após instalados, olharam em redor, por entre as folhas, viram o pai, lá ao fundo, a preparar a terra para a sementeira, as ovelhentas do tio Pretérito a pastar nos campos de lodeiro e, depois de um breve reconhecimento, olharam fixamente o céu.
_Vês alguma coisa?_
_Ainda não. Será que hoje não vem?_
_Vem. Ele vem sempre. Hoje não ia faltar. Logo hoje, que faço anos. Há-de trazer- me uma prenda. Tenho a certeza._ Etiqueta suspirou, receosa de que nada se passasse nesse dia tão especial.
O tempo foi passando, vagaroso, o tempo é sempre vagaroso quando esperamos ansiosamente por algo, até que Pirolito exclamou:
_Olha ali!_
_Onde?_
_Ali ao fundo. Ainda mal se vê. Junto às nuvens!_
Aquilo que era um ponto, foi-se aproximando até se reconhecer um enorme pássaro de penas escarlate e verde sol. Planou durante uns segundos sobre as crianças até se posicionar mesmo em frente a elas, planando, imóvel e esplendorosa.
Preso ao bico, trazia um pequeno embrulho, que agarrava pelo laçarote cor de rosa, e que depositou nas mãos de Etiqueta.
"Não abras já." Parecia querer dizer no seu canto encantador. E cantando, num piar pleno de recados, se afastou tão rapidamente como aparecera, deixando os irmãos observando a sua viagem pelo ar.
Os irmãos desceram a árvore, tão rapidamente quanto era possível. Etiqueta agarrava a prenda com os dentes para ter as mãos livres. Todo o cuidado era pouco para que não caíssem daquela altura brutal.
Sentaram-se nas ervas húmidas, junto ao grande tronco.
_Abre_ disse Pirolito, ansioso. Não era todos os dias que se recebia um presente de uma ave tão bela. Tão linda era que nem um só adulto acreditava na sua existência. Diziam serem sonhos de meninos com muita imaginação.
Etiqueta desfez o embrulho, nervosa. O que poderia trazer-lhe o pássaro visitador? Tinha que ser algo de extraordinário, disso tinha a certeza.
Dentro da pequena caixa estava uma lágrima de pássaro e uma gota de orvalho, presas num fio de ouro.
Cristovam Duarte, José Silva e 29 outras pessoas
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terça-feira, 4 de agosto de 2020

nnnlisçijçi

Olá Taninha, doçura da avó

Realmente, que bizarro local que foram escolher para lua de mel, uma terra tão tranquila e pura, onde o tempo passa mais devagar.
A menina ainda não era viva, não chegou, portanto,  a conhecê-la, mas sabe que me sentei muitas vezes, lado a lado com a minha avó, em cadeirinhas alentejanas que trazíamos de dentro de casa e colocávamos no passeio, para que pudéssemos disfrutar do ocaso dourado e das suas temperaturas mornas depois de um dia de calor abrasador.?
Sabe que passavam os vizinhos, afáveis, dando meia dúzia de conversa, e fazendo perguntas tontas às crianças? 
Tem consciência de que é uma vila plana e branca, que se estende apenas à altura do horizonte?
E que  tem uma bonita avenida para fazer passeios pedonais, com as suas pequenas laranjeiras cheias de frutos coloridos, ou flores cheirosas, que descem o passeio quase de mão dada connosco, de tal forma estão ao nível das nossas sensações?
Sabe como são aquelas casinhas por dentro, as de fachadas com listas azuis ou amarelas contornando janelas e portas, e coladas uma às outras por paredes laterais, em ruas silenciosas?
Sabe que no fundo das casas há, quase sempre, um quintal com uma lúcia lima?
Sabe que maravilhosos repastos por lá se comem,  desde os gaspachos refrescantes e das sopas de peixe de sabor único, até ao pão, de travo amargo e reconfortante?
Sabe que perdeu milhares de habitantes depois da crise, porque fábricas e empresas fecharam?
E sabe que, em seu redor, há campos rasos de flores minúsculas e belas?