quarta-feira, 24 de outubro de 2018
Beirute
A vizinha chegou-se à varanda e sobrepôs a sua voz irritante ao canto dos pássaros.
Aquelas palavras ocas a embaterem umas nas outras faziam um ruído desagradável.
"Passemos à sala", dizia ela aproveitando para sibilar os esses, como fazem as cobras.
Nesse preciso momento, #Beirute pulou para cima da secretária.
Ficou à minha frente com as patas enroladas e a sua silhueta de esfinge negra.
"Passemos à sala" repetia, e eu a escrevê-la com um fio de tinta que me escorria dos dedos que absorviam coisas inimagináveis e mágicas.
O gato preto agora dorme, ou finge, talvez.
Sei que bastará uma invisibilidade qualquer para se pôr alerta.
Calou-se. A vizinha calou-se e voltou para dentro.
Ouvi-lhe os saltos que batiam nos mosaicos do terraço. Ouvi até o som desaparecer.
Encontrei um recado ilegível debaixo da porta, escrito com uma letra escorrida sem ter traços ou pernas, ou pontos no is.
Beirute aproximou-se, devagar, e fixou os olhos na parede,
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