A Lina
é que tinha
uma #GABARDINA
Tinha-a desde menina
e a Lina
não percebia
porque não lhe servia
se lha tinha dado a mãe
e lhe ficava tão bem,
na altura!
E a Lina
tentava vestir
a gabardina
e nem apertavam os botões
enormes e comilões,
anos de toucinho e feijões,
e desistia a Lina
de vestir a gabardina
e acabou por a dar
a um dos irmões!
( que eram pobres e magros e não tinham o que vestir e também não sabiam escrever, como deve de de de ser )
terça-feira, 22 de novembro de 2016
Castanha
Não podia ter corrido de outra forma.
O sol oferecia uma enorme quantidade de luz
a passar por entre as folhas das árvores.
E elas,
em fase de ficar nuas.
Antes,
antes da nudez completa,
expressavam-se nas mudanças de tom
transformando copas verdes e exuberantes
em imagens amarelas e castanhas.
Não podia ter corrido de outra forma
ofuscado pelo dia radioso
absorvido pela parte viva do corpo
puxava para si o brilho de tanto mar ali perto,
mas qualquer mar com este sol seria assim.
Antes,
antes da nudez completa,
não podia ter corrido de outra forma,
ficaram pernadas e galhos cor de terra
virados, como grandes braços, para cima
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
Lembranças EI (adaptado)
A casa cheia de objetos supérfluos e inconvenientes, amontoados pelos cantos, garrafas e embalagens vazias.
(Numa persistência encantadora e comovente, com as palavras adequadas, conseguiu evitar-lhe um buraco sem fundo).
E era aí que dizia, as tuas palavras não me matam a sede, quando se virava para ela.
A pancada maior são escritores que não me matam a sede.
Tenho alguns elogios para ti, mas não me matas a sede! E dizia: Que previlégio ser alguém solitário mas que os outros abraçam.
Espreitava da pequena janela, para ver os plátanos, o que pouco aquece ou pouco arrefece, a mãe dizia, hei-de levar isto para aqui e para ali. Dava pequenas voltas, passos absolutamente curtos, mas não me matam a sede as tuas palavras. Repetia maravilhada de encantos invisíveis.
A roupa suja, os sacos e de vez em quando um simpático sorriso sem alguns dentes.
Que previlégio, que previlégio descer ao fundo do mar, as tuas palavras não me matam a sede, era tudo tão lindo com os peixes de cores vivas e as algas basculantes, tudo pintado como os limões e as laranjas que me trazes.
Que previlégio as tuas palavras não me matarem a sede, afogadas naquele copo de água. Enfim!
E a janela? A janelita? Praticamente um postigo, um quadrado de vidro numa moldura de madeira., as tuas palavras não me matam a sede.
A puxá-la pela mão, #LEMBRANÇAS, a casa cheia de lembranças pairando irreais ou acumuladas em tralha sobre os móveis, onde por sua vez sempre se move uma graciosa amálgama de sombras de sol e de folhas!
O que também me serve de amparo são as tuas palavras que não me matam a sede, percebes?
É a janela, é o postigo. O outono repetido vezes sem conta, o pó sobre a mesa, o pequeno troço de estrada que nele fiz com a ponta de um dedo.
E as tuas palavras não me matam a sede, só o movimento impercetível das velhas cortinas.
(Numa persistência encantadora e comovente, com as palavras adequadas, conseguiu evitar-lhe um buraco sem fundo).
E era aí que dizia, as tuas palavras não me matam a sede, quando se virava para ela.
A pancada maior são escritores que não me matam a sede.
Tenho alguns elogios para ti, mas não me matas a sede! E dizia: Que previlégio ser alguém solitário mas que os outros abraçam.
Espreitava da pequena janela, para ver os plátanos, o que pouco aquece ou pouco arrefece, a mãe dizia, hei-de levar isto para aqui e para ali. Dava pequenas voltas, passos absolutamente curtos, mas não me matam a sede as tuas palavras. Repetia maravilhada de encantos invisíveis.
A roupa suja, os sacos e de vez em quando um simpático sorriso sem alguns dentes.
Que previlégio, que previlégio descer ao fundo do mar, as tuas palavras não me matam a sede, era tudo tão lindo com os peixes de cores vivas e as algas basculantes, tudo pintado como os limões e as laranjas que me trazes.
Que previlégio as tuas palavras não me matarem a sede, afogadas naquele copo de água. Enfim!
E a janela? A janelita? Praticamente um postigo, um quadrado de vidro numa moldura de madeira., as tuas palavras não me matam a sede.
A puxá-la pela mão, #LEMBRANÇAS, a casa cheia de lembranças pairando irreais ou acumuladas em tralha sobre os móveis, onde por sua vez sempre se move uma graciosa amálgama de sombras de sol e de folhas!
O que também me serve de amparo são as tuas palavras que não me matam a sede, percebes?
É a janela, é o postigo. O outono repetido vezes sem conta, o pó sobre a mesa, o pequeno troço de estrada que nele fiz com a ponta de um dedo.
E as tuas palavras não me matam a sede, só o movimento impercetível das velhas cortinas.
Pasolini EI
Na televisão dá o Porto não sei quem e por aqui uma onda demoníaca de lívidos desesperados afirmam que estão quase doidos varridos.
Propuseram-se saber tudo sobre Pier Paolo #PASOLINI ,o três pês. Pintaram-no de preto e de tinta, viram-no um jovem arrebatado, um velho irreverente, um génio da lâmpada, com profusão, difração, reflexão e muitos anos de luz, transformando assim o transformado, até saber tudo de tudo.
Percebia-se que eram renegados porque trocavam as voltas, não ligando a dois sentidos nem a um, e, sobretudo, porque embirravam demais com o sacana do homem, e insisto que estavam homogeneamente lívidos precisamente porque nunca mais os vi a apanhar sol.
Pier Paolo Pasolini, pá pá pá, pé pé, pó pó, e iam batendo com os pés no chão, e com as mãos na parede, em ritmo alucinado, maluquinhos, hi hi hi, a cantarem: Ó três pês, ó três pês, vem já aqui!
Propuseram-se saber tudo sobre Pier Paolo #PASOLINI ,o três pês. Pintaram-no de preto e de tinta, viram-no um jovem arrebatado, um velho irreverente, um génio da lâmpada, com profusão, difração, reflexão e muitos anos de luz, transformando assim o transformado, até saber tudo de tudo.
Percebia-se que eram renegados porque trocavam as voltas, não ligando a dois sentidos nem a um, e, sobretudo, porque embirravam demais com o sacana do homem, e insisto que estavam homogeneamente lívidos precisamente porque nunca mais os vi a apanhar sol.
Pier Paolo Pasolini, pá pá pá, pé pé, pó pó, e iam batendo com os pés no chão, e com as mãos na parede, em ritmo alucinado, maluquinhos, hi hi hi, a cantarem: Ó três pês, ó três pês, vem já aqui!
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