A ressonância provocada pelo camião a passar na estrada,
o cão que ladra, o berbequim num jardim indefinido,
a espalhar-se, elétrico e desagradável,
sobre esse casario que te circunda,
deixam-te em completa inércia.
Quando todos se calarem demais,
alcanças um livro de poemas de pó,
dispersos e voláteis, sempre desarrumados,
mexem-se durante a noite, ganham vida enquanto dormes,
sobrepondo-se, às vezes, uns aos outros,
na mesma página, para deixar outras em branco.
A aldeia, que também era branca
quase caía sobre a falésia, num golpe de televisão,
que viste com um olhar furtivo lançado para o mar magnífico,
contido no pequeno ecran.
Se espreitares pela janela, verás as folhas amarelas a caírem,
devagar, só uma ou outra,
leves, leves, leves, leves,
como tão bem exprimem os versos que caíram do livro
quando o abriste.
As palavras, indeléveis estavam no olhar do homem
ao reunir os seus filhos em volta de uma mesa
para que todos juntos combinassem corretamente a sua morte.
Com muitos sorrisos, também brancos.
Mas dinheiro vivo, era o sangue dos corações,
a valerem qualquer coisa enquanto existem,
a latejarem no tampo.
Não era a contemplação das árvores que se despem lentamente
inevitáveis, ano após ano, nos mesmos gestos de sempre.
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