Contrariamente ao espectavel, já que nunca conversámos a sério, tenho a certeza de a conhecer bem. Fumamos o mesmo #tabaco, partilhamos, todos os dias os mesmos caminhos, como comprovam as pegadas que deixa sobre as minhas, com o mesmo tamanho de calçado, e aquela sola particular que marca aos quadrados a terra mole.
A partilha dessa intimidade, dessa relação diária, provoca-me, bastas vezes, um sentimento semelhante ao da amizade, embora, com algumas reservas.
Amedronta-me a sua semelhança com os homem sem mãe, ou com os jardins sem flores.
Quando posso, quando não venho com a cabeça cheia de outras coisas, e me concentro para falar com ela telepaticamente sobre a sua tristeza, acabo sempre a ensinar-lhe a apreciar os recantos, porque é um exercício que ajuda. Muito, mesmo! Pela eficácia desta terapia ponho as mãos no fogo.
Mas como dizia, assustei-me com aquela busca apatetada que fazia de coisa nenhuma, ou a semelhança que gostaria de ter comigo, ou mesmo, e perigosamente, de se apropriar do meu pensamento e do meu corpo.
Não tem ela a noção da minha capacidade para a sentir, ou o que eu percebo mais que ela, e por isso, pela curiosa vantagem que tenho de perceber o que ainda não percebeu, deixo-a, normalmente, enrolar-se em mil voltas no meu pescoço.
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