O rapaz divertia-se a ver como atuavam as três luas, projetando o seu corpo no chão.
Observava o seu próprio movimento através das sombras escuras que partiam dos seus pés. A maior e mais sombria prolongava-se pela terra redonda até não se ver mais. As outras acabavam logo ali, uns míseros metros à frente. Se acenava um pouco com uma das mãos, logo elas se movimentavam, as três mãos direitas, mais ou menos ampliadas, conforme a distância e a inclinação.
A miúda chegou e olhou-o por alguns segundos. Percebeu, sem haver necessidade de pronunciar quaisquer palavras, o que ele ali fazia, virou-se ligeiramente e impulsionou o corpo para se sentar ao seu lado.
Após sentada, ajeitou-se um pouco, para o equilíbrio ser perfeito, fixou as mãos nas pedras e encostou, como ele, os calcanhares às reentrâncias do muro.
E assim ficaram, ligeiramente inclinados para a frente, sem falar.
A dimensão dos seus corpos vazios e escuros bailava no terreno plano, ao som do silêncio dos sítios por onde não passa ninguém, era a água que corria rio abaixo, onde peixes prateados dormiam nos cantos das lagoas ao fundo, cobertas de flores de lótus.
Havia três sombras de salgueiro na superfície do espelho que formava o caudal do rio, esse caudal que depois se alongava na foz em vários braços.
Mantiveram-se quietos até que se cansaram de dançar no chão, o que aconteceu logo assim que nasceu o sol. Um sol, apenas um, para um luar de três luas, que lhes agitou um sonho, fazendo com que se esfumasse das suas memórias.
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