Era uma vez, em tempos que já lá vão, uma camponesa, que apanhava couves na sua horta para vender mais tarde no mercado, quando, subitamente, uma das ditas se transformou num príncipe.
Para além da pele um pouco esverdeada, talvez demais para um ser humano, o príncipe era em tudo igual aos outros príncipes que conhecemos, tanto os que existem mesmo, como os que chegam até nós através das histórias de encantar.
A camponesa, quando viu aquela figura tão esbelta, tratou logo de ajeitar o cabelo, que lhe caía despenteado sobre a testa, endireitar as saias, e limpar as mãos ao avental.
O príncipe couve acordou de um pesadelo a meio da noite.
Deu por si sentado no chão sem a sua capa verde e com uma bela camponesa, isilda chamava-se ela, a olhar para si e a endireitar os cabelos conforme conseguia.
Tomou-se de amores por ela, mas, nessa época longínqua , e apesar de alguma bruxa endemoninhada o ter enfeitiçado, não era permitido aos legumes apaixonarem-se por seres humanos, e foi com uma grande tristeza que falou assim:
_Isilda, sou uma couve, e nem sequer sou uma couve portuguesa, sou um repolho Isilda, sou um repolho, não me posso apaixonar. E que fazer se a #sensualidade dos teus gestos me deixa louco? O que faz uma couve repolho louca transformada em príncipe nestas situações? Diz-me! Terei amigos que me ajudem? Magos que me livrem desta maldição?
Isilda sacou da faca de cortar a hortaliça, que tinha dentro do cesto de vime.
_Queres que te faça em Juliana? Ou caldo verde? Não por mim, mas por ti. Vejo que sofres._
Clorófilo soluçou, comovido, mas recusou a proposta de Isilda, com um ligeiro abanar de cabeça.
Contam os antigos que por aquelas terras, em noites de lua cheia, o fantasma do príncipe couve ainda hoje aparece nas hortas, a choramingar.
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