O homem monstruoso
sentou-se à mesa,
com os óculos grossos
escorregados
até à ponta do nariz
e deu início à refeição
que acabara de preparar.
Tinha à sua frente
um copo,
e os talheres,
meticulosamente
arrumados, um de
cada lado do prato.
A música enchia-lhe
o espaço inteiro,
e, pela janela,
se quisesse,
podia tocar as árvores.
Era só esticar os grandes
braços disformes.
À tarde, no tempo delas,
o homem monstruoso
ia colher rosas no jardim.
Para comer.
E era quando os gatos
se roçavam nas suas pernas
arqueadas,
e mais nada se mexia.
Apenas eles
e os pássaros que fugiam
da sua figura horrenda,
partindo, apressados,
para destinos mais quentes
e mais bonitos.
Depois dessa fuga,
era inevitável.
Haveria de sentir o pulsar
das primeiras brisas de outono
e o seu suposto
movimento nas sombras.
Mais tarde,
bem mais tarde,
já seria o vento violento,
ou a tempestade,
que lhes determinaria a vida,
a elas, às sombras,
ou ainda,
a criação previsível de fantasmas
sobre uma tela de tintas
misturadas.
Ao fundo, no rio de margens soltas,
pelas correntes,
gritos noturnos deslizavam
na superfície da água.
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