sem vida
nas pessoas sem rosto
nos animais sossegados
enroscados numa cadeira
a apanhar o sol tardio
e húmido da manhã de nevoeiro.
Só deu pela reviravolta quando
sentiu os bonecos inanimados
da televisão
acordados inesperadamente.
Atràs do ecrã
naquele dia lindo de névoa
espreitava o ladrão de
todas as vírgulas possíveis.
O larápio entrava sorrateiramente
no discurso e roubava-as
para depois as enfiar na face de alguém.
Como setas.
Esse rosto cravejado de
pequenas unhas falciformes e sujas
arrancadas ao texto
que ficou sem nenhuma
metia dó.
O derrotado escorregava
por ali abaixo
sem controlo
Nem uma ficou para amostra.
Entrou como quem entra
descomprometido
e percorreu as linhas com os olhos.
Identificou-as rapidamente
localizou-as
recolheu-as
e fez aquela maldade ao outro.
E os livros nas estantes riam-se
que nem uns perdidos
embora só nalgumas passagens.
Noutras ficaram sem fôlego.
Gostavam daquele jogo
de arco e flecha.
Não brinques com o fogo
cantavam em coro as bolhas bolorentas
entre as bolachas e o café.
Muito bem.
Assim farei cor de rosa.
Foi quando a água da garrafa borbulhante
nos pediu a todos
o máximo silêncio. Por favor.
Soaram os tambores.
E tudo para traçar um #risco pequenino
no papel
que mais parecia uma vírgula.
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