Fazia quinze dias
que os limpava,
muito bem limpos,
e depois ficava a observá-los,
embevecido.
Alguns tão bonitos e reluzentes
outros, rugosos, de cor indefinida,
e a todos levava ao ouvido
para verificar se mantinham
o seu chamamento
intacto.
Ouvia as vozes da água,
lá no fundo,
e das gaivotas em estado gasoso.
Ouvia o sal na superfície
das rochas, e na sua,
que eram iguais,
de mil cristais bruxuleantes.
em dias de tempestade.
Quando assim era,
a tarde entrava pela noite fora
e ele ficava perdido no tempo,
esquecendo as horas.
Nem se alimentava, não tinha fome
que justificasse levantar-se,
quase nada o faria interromper
a observação dos mesmos.
Mantinha, inexplicavelmente,
desde há quinze dias,
o cabelo desalinhado e sujo
a #braguilha desabotoada,
os dentes por lavar,
e um dos maiores oceanos
dentro da sala de estar.
Os búzios sonoros que tinha
sobre a mesa,
colocados uns em frente
aos outros, marcavam,
de certa forma,
alguns dos pontos de interceção
das ondas.
Não era necessário falar
com ninguém.
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