sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Bunhuel


Lembro-me bem da primeira vez que vi um. Verde, com uns óculos redondos, de aros pretos, muito grossos, a sair por um buraco na terra.
Tinha começado a chover, e o meu pai recordava, debaixo do alpendre, os saudosos tempos em que punha a minha avó no telhado, a hidratar, quando demos com ele, a sorrir para nós, meio escondido  atrás de uma árvore.
O meu pai explicou-me. 
"É um #Bunhuel. Deve ser ele que anda a roer os troncos das oliveiras. Alimentam-se de azeitonas de Elvas. Vês os dentes aguçados que ele tem? Parecem muito fortes mas na verdade não são. Só conseguem trincar os miúdos até aos quatro anos. O resto já é muito duro para eles.
Ah...! E não tenhas medo se ele te agarrar e abanar muito até veres estrelas. Gostam de brincar"
e continuou, parecia saber tudo sobre as criaturas:
"São míopes desde tenra idade, por isso usam óculos. Só os tiram para dormir, e nessa altura colocam-nos em cima da mesa de cabeceira"
Infelizmente, nesse momento, a minha mãe materializou-se ao pé de nós, aos urros, e o meu pai nunca mais abordou o assunto.


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