segunda-feira, 15 de agosto de 2022


Havia sempre qualquer coisa a invadir os poemas, podia ser o mar revolto, ou a luz do sol, ou um dia absolutamente cinzento, ou outra qualquer circunstância  temporal, sim, porque o tempo também os invadia, galgava, como as ondas, as rochas mais imponentes, voava como as gaivotas e pousava na água para se alimentar.
Os poemas,  sólidos enfim... talvez nem tanto, os poemas sentiam os incómodos na pele, os poemas tinham pele bronzeada, brincos de búzios apanhados ao luar, talvez... vento nas folhas verdes, pássaros pousados voando sobre os fios da eletricidade e escrevendo recados redondos abaixo das nuvens desenhadas.
Os poemas sentiam-se ultrajados, instáveis, inseguros,  com as nortadas que os viravam de pernas para o ar, interrogavam-se sobre a existência frágil a que estavam sujeitos, previam a  morte eminente, as palavras de que eram compostos vogando no vácuo, despedaçadas.
Entrementes, as ondas iam desenrolando na praia, o mar insistia em encharcar as palavras, separar os versos, até não existirem. Que medo!
O poeta olhava a trajetória da luz invadindo o vidro do copo e o líquido transparente que lá estava dentro, com os seus poemas submersos.
Ontem,
Na água salgada havia um brilho arrebatador, porventura  cristais de sal, era, tinha sido uma noite de grande luminosidade, de sombras bem definidas nas paredes das casas brancas, havia sempre qualquer coisa a invadir os poemas, não sei...









Sem comentários:

Enviar um comentário