Saí para o terraço e dei com os passaritos a olharem-me da gaiola.
Dizia que era a sombra das aves que, por vezes, se atravessava nas folhas de rascunho, de pequenos apontamentos, que habitualmente deixava espalhados sobre o tampo da secretária.
Não era certo, mas diria ser daquele lugar, em frente à janela, que via o jasmim esperando pacientemente a chuva,
e o pássaro olhando, deslumbrado, a árvore salvavidas, velejando do lado de fora das grades.
Apresentava-me folhas manuscritas, em letra indecifrável.
Olhava-me implorando qualquer coisa que eu sabia não lhe poder dar.
Eram tão rápidas e vaporosas que nem o gato, habituado ao incompreensível, e que normalmente dava conta de tudo, parecia percebê-las.
Raramente vinha cá fora ver as flores.
O canário enchia o chão de cascas das sementes que atirava sacudindo o bico, e eu, ao dar um ou dois passos, fazia com elas estalassem ligiramente debaixo dos meus pés.
De vez em quando gritava. Sempre que lhes imaginava as asas etéreas sobre a impressora, subindo rapidamente para a página vertical e aparecendo e desaparendo repetidas vezes, mas eu, de pensamento racional, fazia questão de a informar o quanto duvidava da sua passagem.
Depois, queixava-se do quarto virado a norte e da constante falta de sol.
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