vê lá se voas para onde voaram as frésias no verão passado,
como certas palavras que fazemos nossas, dê lá por onde der,
para nos fazerem companhia para o resto da vida.
Tinha por mais do que uma vez, observado várias movimentações.
Contudo os cenários e os personagens mudavam de tal forma,
que era como se habitasse mil casas, ou mais,
ou lutasse por encontrar a "cor", uma cor especial
no espacial que determina o céu,
sei lá eu o que estou a fazer.
Bastas vezes, vira mulheres silenciosas
a deslocarem-se de um lado para o outro,
todas diferentes e caladas,
entravam e saíam por portas inventadas,
enquanto preguiçosamente as previa,
podia ser a meteorologia qualquer uma,
tanto fazia calor e luz, como o nevoeiro
agarrado ao entardecer com unhas e dentes,
ou uma noite um pouco mais brilhante do que as outras,
ou essa mesma noite morrendo no orvalho da manhã.
Dobravam a esquina, presumo,
já só as via quando estavam à minha frente,
dando-se assim a conhecer, sempre do outro lado da estrada,
debaixo da lona de um toldo,
o local onde mais as ervas tendem a invadir o passeio.
Os gatos, essas fantásticas e enigmáticas criaturas,
estão por todo lado.
Quantas vezes aparecem sem aviso prévio,
controlando o que não se vê,
sólidos e harmoniosos, menos na areia,
os gatos não gostam dela,
deitam-se nos catos das dunas, que vejo daqui,
da minha janela, e estendem-se ao sol.
As árvores existem,
obviamente nuas umas vezes, quase nunca,
mas são, contudo, as mais rápidas e eficazes
a desaparecer,
para serem recolocadas noutro sítio, numa daquelas serras
em que se respiram umas às outras
provocando frescura,
e onde velhos plátanos, pela primavera,
revivem o entusiasmo juvenil.
Não era que os adorasse mais que tudo, mas queria-os para mim,
isso era certo,
as palavras, as mulheres do outro lado da estrada, as árvores, os gatos,
os trevos.
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