segunda-feira, 15 de novembro de 2021

o livro

O livro figurava na estante
a consumir um tempo intocável 
Por vezes, viajava de autocarro.
Quando fosse de noite 
era bichanado pelos corredores vazios
Movimentava-se em partículas 
sobrepondo-se às palavras
de uma conversa banal.
Entre desconhecidos
criava raízes aéreas, 
como algumas orquídeas 
suspensas das suas flores.
Sem peso ou volume, 
caminhava tanto, 
horas em passos lentos,
ora em vôos transparentes,
vivia intensamente a vida, 
cujo tempo era consumido
aleatoriamente, 
ultrapassava a física 
através de forças desconhecidas,
adiantava-se ao conhecimento do homem
que o transportava debaixo do braço.
Dançava com as folhas das árvores, 
ou caía no prato de sopa 
de um qualquer adolescente,
ou ainda, era #Vénus, a estrela da manhã.



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