Precisava de um caderno de folhas limpas, só vejo uns quantos todos escrevinhados, conversas inacabadas, jardins abandonados, as ervas a crescerem livremente, nada de bonito, nada de bom.
Alguns até são de outras pessoas, reconheço a letra da minha filha, usurpados a quem lhes dá o uso correto, e não para mim.
E esta divagação que encontro, começada a meio duma página, mesmo no final de outra história, e com o fim na contracapa. Percebo que é a mesma porque está com uma destacável tinta roxa. Nem percebo a letra, nem interessa. Se não fôr tudo lixo também não passarão de voláteis pensamentos, comentários exclusos, mecânica artesanal, metros quadrados de colchas e cachecóis, feitos a pensar em ninguém, ou em alguém muito especial que nem sei, sequer, se existe!
Há! Precisava de um caderno de folhas limpas, uma caneta que escrevesse sozinha, uma aplicação para o computador.
Releio umas quantas palavras, e, insisto, da letra não se percebe nada, onde pus eu o fim desta memória, ou aquela história tão bem escrita de um homem que abre a pasta onde estão os seus poemas, e os despeja na sanita. Não, não era assim. Era uma coisa mais bonita. Espalhava-os na calçada molhada, debaixo de chuva, para que dos seus versos indeléveis não restasse nada, para lhes pôr um fim!
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