Era uma sala sem nada. Só as paredes brancas, o teto e o chão.
Primeiro ouviu-se um fraco gemido, do homem acocorado num canto. Os braços em volta das pernas encolhidas, a cabeça escondida pelos joelhos.
Depois um lamento. Um lamento quase musical, um som em surdina, tépido, ainda assim incapaz de emanar qualquer espécie de calor.
O homem levantou lentamente a cabeça e espreitou o espaço vazio. Quebrado o mutismo continuava a sentir-se completamente sozinho porque a sua voz doce era como se não existisse, e só ele a ouvia.
Depois um grito. Um grito lancinante e feroz, uma coisa animalesca, um urro selvático, um rugido pragmático, um incêndio que qualquer de nós tem por dentro.
Levantou-se em movimentos rápidos com os pulmões abertos em berros insuportáveis e descontrolados.
Queria mexer em objetos, ou, quem sabe, arremessá-los contra alguém de quem não gostasse, e que, por um mero acaso, se materializasse à sua frente.
Pôs-se de gatas para sentir o chão com a palma das mãos, com as pontas dos dedos.
As suas mãos afagavam o mosaico frio, e assim foi andando, de rastos, o grito a esmorecer, e, em gestos lentos, acabou por encontrar o seu canto, um leve cheiro a vida, levíssimo e surpreendente.
Sentou-se.
As pernas encolhidas, os braços em volta delas, a cabeça escondida entre o corpo e os joelhos.
Depois um lamento, depois um gemido, depois o silêncio.
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