Estava a ouvir com a máxima atenção o que o mestre lhe dizia mas não estava a entender grande coisa.
Punha-se a observar o desalento do homem pelo cair dos seus braços ao longo do corpo, a notar-lhe o ar sofredor e impaciente, quando pela milionésima vez lhe pedia para explicar melhor o que queria dizer, e ele, pela milionésima vez, e na sua imensa sabedoria, mudava vezes infinitas o discurso na intenção de que ele atingisse o fundamento pretendido, mas era impossível..
"A vida é uma espada, e nós caminhamos sobre a sua lâmina"
Cruzes, até ficou com pele de galinha, e não percebeu onde ele queria chegar, mas alguém o tinha alertado para o grau de dificuldade daquela sabedoria específica, que podia provocar arrepios, e tinha que acabar o curso se não a mãe não haveria de o largar nunca mais.
"Se te aborrecerem, deixa que o karma há-de-lhes cair em cima, como a serpente cai em cima dos incautos!"
"O quê? O que é que é isso, agora? Cada vez percebo menos."
O mestre, por sua vez, retorcia as mãos uma na outra, preocupado. Os seus discípulos estavam a atingir um grau de falta de descernimento como ele nunca tinha visto em trinta anos de carreira.
Às vezes punha a possibilidade de ter perdido faculdades e não se explicar devidamente,
A verdade é que já tinham passado longos anos desde que o último grupo de jovens o seguiu, voluntariamente, pelos campos fora, entoando cânticos de alegria, e apanhando besouros e outros animaizinhos desse tipo.
Sem comentários:
Enviar um comentário