Subiu as escadas com cuidado. Primeiro um pé, depois o outro no mesmo degrau, enquanto que, com a mão direita, inesperadamente forte, segurava com vigor o corrimão.
Abriu a porta de casa, fechou-a, rodou a chave, devagar, em três voltas, e estava a dirigir-se para a televisão, com a intenção de a ligar, mas a sua atenção foi despertada pela luz que iluminava a sala.
Do outro lado da rua, #Otto foi surpreendido pelo enorme clarão que apareceu na janela.
Abriu a porta da rua, desceu os quatro degraus, e saíu pelo portão, encaminhando-se apressadamente na direção da luz de fogo.
A uma distância razoável a multidão observava, comentando:
Não estava ninguém lá dentro, felizmente! Começou no piso dois!
Furou por entre as pessoas, parou o mais próximo que lhe foi permitido, e olhou, com a luz refletida nos olhos respeitosos.
"O piso dois..., só labaredas..." Uma azáfama de corajosos bombeiros, a polícia marcando a área, e as imponentes chamas, deusas escarlates, soberbas, a iluminar aquele pedaço de noite sem vento.
Um calor medonho!
O velhote puxou uma cadeira, sentou-se, e encostou a cabeça ao caixilho da janela, olhou para baixo e percebeu, satisfeito o movimento do vizinho. Deixou-se ficar ali sentado, queria ver o espectáculo, e podia demorar uns minutos, ou horas. Nem sabia quanto tempo faltaria para que regressasse a paz, e com ela as libertadoras colunas, voláteis rolos de fumo, densos e negros.
Mais tarde Otto fez o caminho de volta, com a fuligem no ar e sobre os carros, transfigurando as magnólias, os plátanos, sujando os quatro degraus e a porta.
Quanto a ele, levantou-se e arrumou a cadeira no sítio. Verificou que nos dois copos sobre a mesa ainda havia algum brilho refletido, pelo menos assim o desejava, e deixou-os ficar, assim bonitos.
" Hoje não, que já é tarde, mas amanhã Otto virá cá, para me contar tudo".
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