Havia, em tempos, um gigante por aqueles lugares.
Apesar do seu tamanho enorme, raramente era avistado nas aldeias, mas, mesmo assim, aquela gente temia o seu aparecimento, pois que, e apesar de aparentemente não ser propositado, ele, de quando em vez, esborrachava duas ou três casas, meia dúzia de árvores, ou até uma carroça de bois que por ali andasse na sua lentidão, conduzida por algum infeliz através daqueles caminhos rudimentares.
O gigante, figura solitária e desengonçada, tinha todo o cuidado para não estragar nenhuma das pequenas construções que encontrava pelo caminho, ou pisar aqueles minúsculos seres que via no chão, correndo, desvairados, assim que lhe punham os olhos em cima ao se aperceberem da sua presença quando, inesperadamente, ficavam debaixo de uma enorme e compacta sombra.
Eu, não sei porquê, talvez pela inconsciência característica das crianças, não sentia qualquer desconforto, ou receio, quando a minha mãe me chamava, já em modo de aflição de mãe que pretende a todo o custo proteger os filhos, para que nos escondêssemos debaixo de umas rochas de granito que nem a desmesurada criatura conseguiria destruir, ainda que impulsionada por um ataque de fúria qualquer.
O que eu queria, na verdade, era continuar à janela para o ver mover-se até se afastar, vagaroso, pois admirava, e também invejava, percebo agora, as suas passadas colossais sobre a terra.